cenário nacional

'Hoje, a dependência do Poder Executivo em relação à Câmara é muito forte', diz Nelson Jobim

Em sua passagem por Santa Maria para participar da inauguração do prédio da Justiça Militar da União que leva o nome do seu pai, o advogado Hélvio Jobim, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim esteve na sede do Grupo Diário e concedeu entrevista ao programa Bom Dia Cidade, apresentado por Alexandre de Grandi e Viviana Fronza. Na oportunidade, além de falar sobre a homenagem ao pai, o ex-ministro da Defesa dos governos petistas Lula e Dilma e da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também abordou o momento político do país e as eleições de outubro.

 Na sua avaliação, a terceira via não conseguiu se viabilizar, pelo menos por enquanto, e a polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve prevalecer. 

- (Momento) Muito polarizado. Muito cedo para definir algo claramente. Lula está na frente, Bolsonaro não avançou, terceira via não funcionou - observou Jobim.

Conhecedor da política de Brasília e dos seus bastidores, onde morou e trabalhou por muitos anos, o hoje advogado alertou que é preciso também dar atenção à eleição para o Congresso Nacional, composto por 513 deputados e 81 senadores.

- O problema básico dessa eleição não é só prestar atenção no problema da presidência da República, mas na composição da Câmara dos Deputados. Porque a Câmara, nos últimos anos, assumiu um poder muito forte. Observa bem, o presidente da Câmara, hoje, neste Orçamento de 2022, ele administra R$ 35 bilhões, entre emendas de bancada, individuais e de relator. Um fundo de recursos muito grande. Hoje, a dependência do Poder Executivo em relação à Câmara é muito forte. Mais que o Senado. Ele (Senado) tem uma posição mais restrita.  Então, é importante também não só eleger a presidência da República, mas eleger uma bancada forte -  ressaltou Nelson Jobim, que, atualmente, mora em São Paulo. 

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Foto: Marcelo Oliveira (Diário)/
Ex-ministro Nelson Jobim (à esq.) ao lado do irmão, Walter Jobim Neto, nos estúdios da CDN, na manhã de sexta-feira

O fato de a Câmara ter avançado no Orçamento da União, na opinião do ex-ministro, não vai desaparecer, uma vez que "precisa de alteração legal."  

- O que preocupa é a disfuncionalidade no Poder Legislativo, no Poder judiciário e Poder Executivo. Vamos ver se com essa nova eleição, a gente consiga superar essa fase. Em política, você não escolhe o interlocutor, acusa um, acusa outro. Você tem que sentar à mesa e conversar. A variável que eu não conhecia quando exerci a atividade política, que foi introduzida a partir de 2018, é o ódio, você não tem mais adversários políticos no sentido específico. Perdeu-se o poder de diálogo - avaliou o ex-presidente do STF, que foi deputado e ajudou a elaborar a Constituição de 88.  

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Como ex-ministro da Defesa, Jobim também abordou a invasão das forças militares russas na Ucrânia, no Leste Europeu, e seus reflexos para o mundo.

- Existem certas discussões acadêmicas importantes sobre guerra justa e guerra injusta que veio desde o cristianismo. O cristianismo primitivo é totalmente contra a guerra. Mas depois que o cristianismo começou a assumir o Estado, ou seja, principalmente em Roma, Santo Agostinho começou a discutir a figura da guerra justa, porque aí os cristãos poderiam se envolver na guerra para defender a religião. Hoje, está essa confusão infernal, a guerra é deplorável. O fato é que o equívoco todo foi o avanço da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte) em relação ao Leste Europeu. Num primeiro momento, a Rússia não reagiu quando a OTAN entrou na Polônia - afirmou Jobim.

Para o ex-ministro, o fato de a Ucrânia estar próxima de Moscou, capital da Rússia, causou o problema. Além disso, observa Jobim, "os grandes pensadores americanos em relação à questão dessa guerra são contra por entenderem que os Estados Unidos provocaram a guerra com a extensão da OTAN, principalmente na União Europeia (UE)". Como consequência, a UE não tem autoridade, segundo o advogado.

- E temos outro problema moderno: os líderes europeus são muito fracos. Essa guerra vai terminar. A estratégia que a Rússia está fazendo é uma estratégia de "pinça". Ela vai isolando e fechando. A estratégia não é de domínio imediato. Tanto é que não estão usando força aérea. A técnica que está sendo usada é juntar o Exército, que é muito pequeno, à população. Você não vê o Exército. Só aparece o Exército Russo, e na perspectiva ucraniana, só cenas que causam emoção. Quem tem a possibilidade de forçar um entendimento é a China. Mas tem uma condição que é a relação da China com os EUA. Vai mudar muito a estrutura do mundo. Vamos sofrer muito com a inflação. A questão da inflação no Brasil não é monetária. A grande discussão são os problemas fiscais - acrescentou o ex-presidente do STF, que também foi chefe do Tribuna Superior Eleitoral (TSE). (Colaborou Jaiana Garcia

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